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O que é a Menopausa e como afeta o corpo da mulher?

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Imagem produzida por inteligência artificial para fins ilustrativos.

A menopausa é uma fase natural da vida da mulher. Marca o fim do ciclo menstrual e acontece quando os ovários deixam de libertar óvulos e de produzir as principais hormonas femininas (estrogénio e progesterona). Considera-se que uma mulher entrou oficialmente na menopausa quando passa 12 meses seguidos sem menstruar.

Este processo não acontece de um dia para o outro, mas sim em fases:

  • Perimenopausa (ou climatério) – o período de transição, quando começam as irregularidades menstruais e os primeiros sintomas
  • Menopausa – o momento da última menstruação (confirmado depois de 12 meses).
  • Pós-menopausa – a fase seguinte, em que já não há menstruações, mas podem manter-se sintomas e surgem efeitos a longo prazo, como maior risco de osteoporose e problemas cardiovasculares.

Quando acontece a menopausa?

Na maioria das mulheres, a menopausa surge entre os 45 e os 55 anos, sendo esta a faixa etária considerada natural e fisiológica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a idade não é exatamente igual para todas. Factores genéticos, estilo de vida e saúde global influenciam o momento em que ela ocorre.

Um estudo nos Estados Unidos, publicado no JAMA, mostrou que a idade média da menopausa tem aumentado ao longo das últimas décadas: passou de 48,4 anos (nos anos 1950/60) para 49,9 anos (após 2010). Esta tendência pode estar relacionada com melhorias na nutrição, acesso a cuidados de saúde e mudanças no estilo de vida.

A menopausa deve ser entendida não como uma doença, mas como uma transição natural da vida da mulher que merece cuidados e atenção.

JoAnn E. Manson, médica e investigadora em saúde da mulher, Harvard Medical School

O que acontece no corpo da mulher?

A mulher nasce com um número limitado de óvulos — cerca de 1 a 2 milhões ao nascer, reduzindo-se para aproximadamente 300 a 400 mil na puberdade. Ao longo da vida, essa reserva vai diminuindo até se esgotar. Quando os ovários já não têm folículos ativos, deixam de responder da mesma forma aos estímulos hormonais, e é aí que se instala a menopausa.

Alterações hormonais

Durante esta transição, o corpo entra num novo equilíbrio hormonal:

  • Queda do estrogénio e da progesterona — hormonas fundamentais para o ciclo menstrual, fertilidade e proteção de vários sistemas (ossos, coração, pele, cérebro).
  • Aumento da FSH (hormona folículo-estimulante) e LH (hormona luteinizante) — produzidas pela hipófise, tentam “forçar” os ovários a trabalhar, mas já não conseguem ativar folículos.

Este desequilíbrio hormonal é responsável pelos sintomas típicos da menopausa e pelas mudanças físicas e metabólicas que acompanham esta fase.

Alterações nos sistemas do corpo

A queda hormonal afeta não apenas a fertilidade, mas também diversos sistemas do organismo:

  • Termorregulação – alterações no centro de controlo da temperatura do cérebro levam a fogachos e suores noturnos.
  • Ossos – redução do estrogénio acelera a perda de massa óssea, aumentando o risco de osteoporose.
  • Sistema cardiovascular – o estrogénio ajuda a proteger os vasos sanguíneos; a sua diminuição aumenta o risco de doenças cardíacas.
  • Cérebro e humor – maior vulnerabilidade a alterações do sono, ansiedade, depressão e défices cognitivos ligeiros.
  • Pele e mucosas – perda de elasticidade, secura vaginal e desconforto nas relações sexuais.

Inflamação e sistema imunitário

Estudos recentes sugerem que a menopausa não é apenas uma questão hormonal, mas também envolve processos inflamatórios e imunológicos. A queda do estrogénio pode alterar o funcionamento do sistema imunitário, contribuindo para sintomas como fadiga, alterações de humor e até maior risco de doenças crónicas.

Sintomas mais comuns da menopausa

A experiência da menopausa varia muito de mulher para mulher. Algumas passam por esta fase quase sem sintomas, enquanto outras sentem alterações intensas que afetam a qualidade de vida. Estes são os sintomas mais frequentes da menopausa:

  • Fogachos (ondas de calor) e suores noturnos – até 80% das mulheres relatam estes sintomas vasomotores. São causados por alterações na regulação da temperatura corporal devido à queda do estrogénio;
  • Alterações do sono e insónias – muitas vezes relacionadas com os fogachos, mas também com mudanças hormonais e emocionais;
  • Mudanças de humor, ansiedade e depressão – flutuações hormonais influenciam neurotransmissores ligados ao bem-estar, como a serotonina;
  • Secura vaginal e desconforto nas relações sexuais – devido à atrofia geniturinária (perda de elasticidade e lubrificação natural).
  • Ganho de peso, sobretudo na zona abdominal – associado a alterações hormonais e metabólicas.
  • Perda de massa óssea (osteoporose) – a diminuição do estrogénio acelera a fragilidade óssea.
  • Maior risco cardiovascular – pela perda do efeito protetor dos estrogénios sobre o coração e vasos sanguíneos.

Quanto tempo duram os sintomas?

Um estudo internacional de grande escala, o SWAN – Study of Women’s Health Across the Nation, acompanhou milhares de mulheres e mostrou que os sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos) podem durar em média 7,4 anos, podendo em alguns casos ultrapassar os 10 anos. A duração e a severidade dos sintomas variam conforme a etnia, estado de saúde geral e fatores de estilo de vida.

Porque é importante falar sobre a menopausa?

A menopausa é um processo natural da vida da mulher, e não uma doença. No entanto, as alterações hormonais que acontecem nesta fase podem ter impacto profundo na qualidade de vida e aumentar o risco de várias condições de saúde a longo prazo.

Um estudo realizado na Índia, com mulheres entre os 48 e 55 anos, mostrou que sintomas moderados e graves tiveram impacto significativo na qualidade de vida, afetando não apenas o bem-estar físico, mas também os domínios psicológico e social.

Por estas razões, falar sobre menopausa é fundamental. A informação e o acompanhamento adequado permitem melhorar a qualidade de vida e reduzir o impacto dos sintomas, prevenir complicações a longo prazo como osteoporose e doenças cardiovasculares, apoiar a saúde emocional e social da mulher e, ainda, promover escolhas informadas sobre o estilo de vida e os tratamentos mais adequados a cada caso.

As opções incluem mudanças de hábitos (alimentação equilibrada, prática de exercício físico, cessação tabágica), acompanhamento médico regular e, em alguns casos, terapia hormonal ou alternativas não hormonais, sempre avaliadas em função do perfil de risco e benefício de cada mulher.

A menopausa é uma transição natural que pode trazer sintomas desafiantes e riscos para a saúde, mas não deve ser vista como uma doença. Com informação, acompanhamento médico e escolhas de vida saudáveis, é possível atravessar esta fase com equilíbrio e bem-estar. Mais do que um fim, a menopausa representa o início de uma nova etapa, que pode ser vivida com confiança e vitalidade.

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